Distensão abdominal, diarreia crônica, vômitos e prisão de ventre. Esses são alguns dos sintomas que conviviam diariamente com a representante comercial, Renata Monteiro, 34, antes de descobrir que tinha a doença celíaca (DC). “Tinha dias que eu nem acabava de comer e ia correndo para o banheiro, era vergonhoso”, conta.
Renata passou por vários especialistas, chegou a ser diagnosticada com a síndrome de Behçet, uma doença inflamatória crônica, até descobrir que era celíaca, ou seja, desenvolveu intolerância ao glúten, presente em boa parte dos alimentos.
De acordo com a Acelbra (Associação dos Celíacos do Brasil), a doença não é muito conhecida pois os sintomas podem ser confundidos com outros distúrbios.
Renata diz acreditar que ainda há muito preconceito acerca da doença, porque muitas pessoas não a conhecem profundamente. “As pessoas falam, ‘ah comer só um pouquinho não dá nada, é frescura’, mas eu não posso só não comer, não posso ter contato também”, afirma ela.
A DC é uma intolerância ao glúten, proteína presente no trigo, centeio, cevada e possivelmente na aveia. Segundo a Fenalcebra (Federação Nacional das Associações de Celíacos no Brasil), estudos mostram que pelo menos 1% da população mundial é celíaca.
No livro “Glúten: toxidade, reações e sintomas”, a nutricionista Denise Carneiro compara a doença a um iceberg, pois, segundo ela, há mais casos sem diagnóstico (“abaixo da linha d’água”), do que diagnosticado (“acima da linha d’água”).
A psicóloga Ana Sueli Luchetti, 52, descobriu que era celíaca em 2008. Na época, a doença estava num estado avançado. Foi quando ela decidiu se unir com outros celíacos e abraçar a causa.
Hoje, coordena as reuniões mensais para celíacos que ocorrem nas últimas terças-feiras de cada mês, na Unicesumar (Centro Universitário Cesumar). No entanto, explica que qualquer pessoa pode participar da reunião, acompanhar os diálogos, levar alimentos e discutir receitas (sem glúten, é claro). “Está aberto para qualquer pessoa que tem interesse em conhecer a doença”, ressalta.
Ela diz acreditar que o processo de aceitação é muito difícil no começo, pois trata de uma restrição alimentar para toda a vida. Mas hoje, garante que essa restrição não a impede de ter vida normal e alimentação saudável.
A psicóloga afirma que a cozinha da casa dela é livre de glúten, para não sofrer contaminação cruzada. “Meu marido diz que não é celíaco, mas está celíaco”, brinca. Quando precisa ir a algum almoço por exemplo, ela liga antes e avisa que levará o próprio prato.
“Estudos mostram que pelo menos 1% da população mundial é celíaca”
Para a nutricionista Cristiane Stipp Preis, 23, quando a pessoa descobre que tem a doença é aconselhável que procure ter um acompanhamento multiprofissional . “O médico para ajudar no tratamento, o psicólogo para auxiliar na aceitação da doença, e o nutricionista para recuperar o estado nutricional desse paciente e melhorar a qualidade de vida dele”, explica.
A nutricionista ressalta que a maior dificuldade para o celíaco em seguir uma dieta isenta de glúten é encontrar opções seguras em padarias, lanchonetes, e restaurantes. Qualquer contato com o glúten, desencadeará uma série de sintomas nas pessoas que têm a DC.
“Para ser confiável é necessário que todas as preparações elaboradas no estabelecimento sejam 100% isentas de glúten para não haver contaminação”, afirma Preis.
E foi pensando nisso, que a celíaca Viviane Fogaça Costa, 31, decidiu montar um restaurante livre de glúten, com o incentivo do marido. “Amadureci a ideia por alguns meses e fui atrás de algo que fosse me fazer bem. Encontrei o espaço em que estou hoje”, diz ela, em entrevista por e-mail.
Viviane é natural de Maringá, mas o restaurante está em Porto Alegre. Ela mora no Rio Grande do Sul há quatro anos e é casada com um gaúcho.
Apesar de ser turismóloga, ela conta que depois de receber o diagnóstico da doença, decidiu fazer um curso de cozinheiro no Senac. “Como os produtos sem glúten são muito caros no mercado, resolvi ir atrás de cursos para aprender a lidar com receitas sem glúten”, diz.
O restaurante bistrô está apenas há um mês no mercado, mas atende em média 25 pessoas por dia. Viviane diz estar satisfeita com o primeiro mês, e principalmente, por estar provando que comida sem glúten não é sem sabor, ou somente para ser servida em hospitais.